Por Danielli Simões
Diretora comercial da Soma Urbanismo e especialista em mercado imobiliário
* Coluna publicada originalmente na Edição Jun/Jul 2019 da Revista Città

Um tema tem chamado a minha atenção nos últimos meses: o déficit habitacional existente no nosso país. De acordo com um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o Brasil bateu uma marca negativa de 7,77 milhões de residências de déficit habitacional – maior índice nos últimos dez anos,considerando o período entre 2007 e 2017.

Um número alarmante né? Agora pense que a maior parcela desse déficit (42,3%) é relacionada a famílias que têm despesas excessivas com aluguel. Segundo a pesquisa, este número pode indicar uma escassez de domicílios no país, obrigando 3,29 milhões de famílias a pagarem valores elevados de aluguel e comprometendo seus orçamentos.

E isso porque, no estudo, quem mora longe dos grandes centros para evitar preços absurdos de aluguel não é levado em conta. Neste caso, entram questões como custo e tempo perdido com o transporte no deslocamento ao trabalho.

Como resolver toda essa questão? Ora, quando existe um déficit habitacional a resposta é uma só: construir mais casas para as pessoas morarem! Mais do que isso, construir mais casas e colocar preços compatíveis com o que a população pode pagar, para que, assim, as pessoas possam comprá-las e finalmente realizarem o sonho da casa própria.

A própria FGV no estudo sugere isso e projeta uma quantidade de moradias necessárias nos próximos dez anos para atender a todas as famílias brasileiras. Tendo como base a proporção de uma família por residência e considerando o fluxo da demanda, isto é, a formação de novas famílias no período, será preciso entregar 12 milhões de novas residências. Isso dá uma média de 1,2 milhão de novas casas por ano!

E há demanda. As famílias querem sair do aluguel e desejam o seu próprio cantinho.  Uma baita oportunidade para o mercado imobiliário, certo? Bom, para mim sim, mas às vezes não é o que parece quando converso com outros colegas do setor imobiliário. É impressionante como parece algo cultural reclamar do mercado ou querer sempre relembrar tempos de antigamente que, logicamente, não voltam mais. Eu pergunto “Como vão as vendas?” e a pessoa responde “Mercado tá ruim, né? Você sabe como é…”.

Mas, gente! Olha o tanto de casa necessária para atender todas as famílias! Será que realmente o mercado está tão ruim assim? Entendo que a crise econômica e as consequências dela podem acabar desanimando os empresários e, por isso, precisamos de mais otimismo no mercado imobiliário. Precisamos de mais gente com força de vontade. E precisamos reverter a mentalidade das pessoas apegadas ao passado. O desafio é encarar o momento.

Como começar? Uma simples mudança de mindset pode fazer toda diferença. Pensem nisso.